CONFLITOS

Working Paper Nº08

Série: “COMO MELHORAR NOSSO MUNDO”

VIVEMOS NUM MUNDO EM CONFLITO. Existem conflitos de todas as espécies. Desde conflitos intrínsecos que provocam ansiedade e stress e pertencem ao campo da psicologia até conflitos internacionais que provocam guerras.

Por isso, vale a pena parar para pensar mais cuidadosamente nos conflitos que atingem a nossa sociedade de múltiplas formas. Para citar alguns conflitos notórios que gostaríamos analisar temos o conflito de muitos anos entre Argentina e Inglaterra sobre a posse das Ilhas Malvinas ou Ilhas Falkland, o conflito entre a China e a província rebelde de Taiwan, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e até podemos mencionar o conflito entre a Cristina Kirschner e o presidente Argentino que está sendo provocador de crise de confiança no país e inflação número um no mundo. Muitos outros conflitos estão evidentes no mundo e um que tem ocupado grande espaço na mídia é também o conflito entre Israel e os grupos palestinos, que a todo momento volta à tona. Ainda existe o conflito de ideias, especialmente entre ideologias e até também entre torcedores de futebol.

Existem conflitos entre pessoas, dentro das famílias, nas organizações, nos condomínios entre os que querem obras e os que não querem gastar, entre setores, no governo entre importantes setores como executivo e judiciário e conflitos em escalas muito diferentes uns dos outros.

Com esta complexidade enorme para nos arriscar a abordar este tema, destacamos a necessidade de categorizar ou organizar as ideias para poder julgar melhor.

Princípios

Podemos partir de alguns princípios para melhor pensar: um princípio é que os conflitos podem se originar na esfera do sujeito ou na esfera do objeto, isto significa que pode ser subjetivo, simpatia ou antipatia, ou estar fundamentado no interesse de algum objetivo específico, que pode ser um bem material ou uma posse de poder.

Outro princípio e que os conflitos não nascem da mesma forma, mas possuem uma espécie de escalada que vai desde um início por uma provocação até deflagar uma ação violenta pessoal ou uma guerra.

A escalada é processada em vários degraus.

No primeiro degrau as partes tentam solucionar tensões ou contradições. Aos poucos os pontos de vista se cristalizam. Continua o diálogo, porém cada parte fica cada vez mais obstinada.

No segundo degrau cada lado fala a sua própria língua e torna-se incapaz de ouvir e entender a outra parte

No terceiro degrau já não conseguem convencer os outros e então partem para oferecer fatos concretos.

No quarto degrau da escalada. Estes fatos provocam reações da outra parte como autoafirmação.

No quinto degrau a imagem do oposto é negativa e da sua posição se consolida como positiva

No sexto degrau os ataques passam a ser abertos e cada parte se vê como anjo ou diabo.

No sétimo degrau as ameaças predominam, tentando forçar o outro lado a ceder e mais parceiros são envolvidos na busca de apoio.

Na oitava fase busca-se destruir o adversário.

No último degrau da escalada aniquilação e provavelmente a auto aniquilação. Sem caminho de volta busca-se aniquilar o adversário. O triunfo e ver o adversário cair junto no abismo

Estes são os nove degraus da escalada e como seres humanos, permite mobilizar forças desumanas e inconscientes. A evolução em cada degrau permite tomada de consciência, reflexão e intervir para evitar que evolua negativamente.

Assim para entender um conflito é preciso ir a sua origem e acompanhar como se desenvolveu até o momento atual ou até como foi resolvido através de uma intervenção amigável de uma das partes ou de um interventor externo.

Nesse meio tempo o conflito estimulado por seus adeptos vai evoluindo em etapas até eclodir numa deflagração, ou numa luta pessoal.

Seria fácil e muito bom se o conflito entre nações pudesse ser resolvido num conflito entre seus líderes, em lugar de sacrificar populações inteiras que sofrem as consequências.

Casos mais evidentes no momento.

Se pensamos na guerra da Rússia contra a Ucrânia podemos dizer que o fato da Otan estar num processo de expansão de sua influência no Leste Europeu e isto significando uma ameaça à Rússia pode ter sido a provocação para que sentindo ameaças e existindo um governo forte espécie de ditadura, provocasse a Rússia para essa aventura de querer colocar novamente a Ucrânia sob o seu domínio. Todos os países signatários da OTAN se identificando com a Ucrânia, a apoiando de alguma forma, promovem um estímulo à continuidade e o apoio dos EUA também estimula a continuidade. Os motivos alegados por Putín para invadir estão ligados ao receio de perder a Ucrânia para o ocidente e também para defender separatistas desejosos de pertencer à Rússia. Putin também alega que a Ucrânia se tornou um estado nazista e precisa ser liberada.

Na realidade o conflito já começou com a revolução Russa em 2014 e pela incorporação da Crimeia e Donbass e que são parte da Ucrânia. A Rússia invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro de 2022 por terra, mar e pelo ar.

Do outro lado Ucrânia defende a sua autonomia e independência e o direito de decidir o que quiser ser no futuro, e por isso a ideia de entrar na Otan. Aumentando o nível de provocação os EUA aprovam a entrada na Otan da Finlândia e da Suécia.

A OTAN foi criada em 1949 por 12 países e hoje tem 30 membros se expandindo no Leste Europeu. Esta aliança protege militarmente contra qualquer ataque a um de seus membros.

Neste processo este conflito está transformado numa guerra e as ameaças do uso de armas nucleares coloca o mundo e especialmente a Europa em grande preocupação. A Rússia por sua parte está recebendo muitas sanções econômicas, está tendo uma resistência não esperada e está percebendo conflitos internos e com a mobilização de reservistas, também a fuga de muitos cidadãos para outros países. Isto pode vir alterar a capacidade do governo se sustentar. Claramente falta neste caso a intervenção de um poder externo ao conflito e totalmente independente que possa mediar esta guerra que esta sacrificando milhões, e que seja aceito pelas partes, que por sua vez deverão de ambos os lado ceder para se encontrar uma solução que não deixe vencedores e vencidos  Contribuindo contrariamente a este caminho, a geopolítica local, com a China manifestando solidariedade à Rússia e do outro lado os EUA claramente apoiando com armas e ajuda à Ucrânia, estimulam a continuidade do conflito, que fica sem solução. Zelensky e Putin possuem conflitos subjetivo e do objeto caracterizados pela forma como se tratam e pelos motivos que alegam.

Outro caso de grande preocupação e a atitude que pode vir a tomar a China contra a ilha de Taiwan.

No entanto, e se avaliamos o estágio atual do conflito, podemos considerar que se encontra entre o quarto e o sétimo degrau da escalada, e esperamos que fique nesse nível, sem evoluir para uma invasão desproporcional pelas forças comparativas entre ambos.

Frequentes são os conflitos entre membros de uma família, seja por motivos subjetivos, por assuntos financeiros, por diferenças ideológicas, ou por uma palavra mal colocada por um dos seus membros.

Notórios são também os conflitos em condomínios. São muito frequentes e se localizam em locais diversos na escalada, segundo a civilidade com que os participantes assumem as suas posições, e as maiorias terminam vencendo deixando minorias insatisfeitas e descontentes. A explicação que se dá e que é difícil agradar a todos quando não se tem tempo e paciência para convencimento ou para se encontrar soluções que agradem a todos.

Sim, conflitos existem em todos os níveis e devemos conviver com eles ou ainda buscar a forma de amenizá-los ou até resolvê-los. Para tanto é preciso que uma das partes tome a iniciativa de buscar uma aproximação e o diálogo. Caso isto seja impossível devido ao conflito já ter cristalizado e as partes se consideram inimigas, somente a intervenção de uma terceira parte, respeitada e aceita como neutra por todos, poderá intermediar o diálogo e levar ambos envolvidos buscarem solução negociada, ambos cedendo para atingir o fim do conflito.

PS referência: livro Autor Frederich Glasl “KONFLIKTMANAGEMENT” DIAGNOSE UND BEHANDLUNG VON KONKLIKTEN IN ORGANIZASIONEN

Contribuições recebidas sobre oWorking Paper Nº08

Euclides:

Bom texto, bastante interessante, tentando dar uma sistemática nessa análise. O objetivo deveria ser a procura de transformar o conceito de “conflito” para um de “divergência” entre os envolvidos. Isso pressupõe claramente o “querer” das partes envolvidas. Essa premissa, entretanto, demanda que cada uma delas tenha uma clara visão do que é mais importante para o todo. E isso é muito complexo e difícil de ser alcançado.

Daí minha concordância com a atuação de uma terceira parte isenta e pacificadora, apesar que mesmo nesses casos continua a necessidade do “querer”.

Mais vale um acerto razoável do que um conflito, por vezes violento!

Miriam Menossi:

Muito interessante a explicação sobre a escalada dos conflitos e os degraus percorridos até o desfecho. Às vezes até percorridos rapidamente.  Numa reunião de condomínio o desfecho quase foi trágico. Estava sendo realizada numa sala da Administradora onde havia uma churrasqueira. Houve desentendimento entre um homem e uma mulher. Entraram partes defendendo um e outro, até que a mulher alcançou um espeto que estava pendurado e por pouco não fere as pessoas presentes. Foi uma confusão geral.

A História nos ensina que éramos mais felizes antes do domínio do ego. Nosso eu verdadeiro é dotado de bons sentimentos como a paz, o amor, compaixão, calma, confiança, alegria. Mas o ego quer dominar, quer se impor, sentar-se no trono. É uma disputa constante entre os bons e os maus sentimentos como o medo, o ódio, a insegurança, tristeza.

Nos Governantes e qualquer pessoa que tenha cargo de liderança o ego assume o poder e aí mora o perigo. A liderança necessita de humildade para promover harmonia, bem-estar e bom desempenho de todos.

A vida é cheia de percalços, desafios que se apresentam constantemente. Se todos agissem com inteligência emocional, seríamos mais pacíficos, não haveria guerras, adversários não seriam inimigos, relações familiares seriam mais harmoniosas, cada Nação respeitaria a cultura da outra, reuniões de condomínio seriam pautadas em diálogos.

Gratidão Luis por nos instigar a pensar, contribuindo para um mundo melhor. A troca de conhecimento é sempre salutar.

Abraço!
Miriam

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