CONTRIBUIR, PALAVRA-CHAVE

Working Paper Nº09

SERIE: COMO MELHORAR O NOSSO MUNDO

A palavra contribuir diz muito com relação as expectativas de uma vida e estão relacionadas com sucesso ou fracasso na tentativa de obter o desejado, seja um objeto material ou uma satisfação pessoal.

Na nossa escolha de que maneira contribuir, podemos fazê-lo tratando de buscar algo que nos de satisfação e prazer, ou buscando aquilo que nos trará maior retorno. Trata-se de uma escolha difícil e muitas vezes a necessidade nos obriga e escolher pelo retorno momentâneo, mas seguramente com o tempo buscaremos contribuir e nos satisfazer ao mesmo tempo.

Inspirado nos meus objetivos e na vida da Dra. Gudrun Burkhard passei a destacar esta palavra-chave que explica muita coisa do que fazemos e do porquê fazemos.

Nas primeiras fazes da vida, talvez nos primeiros três septênios, podemos considerar como preparatórios para chegar a ter a oportunidade de realizações já a partir dos vinte e um anos, porém mais solidamente a partir dos 28 anos, no quinto septênio da vida.

Após as primeiras experiências de trabalho e as primeiras realizações, partimos para contribuir, seja como já com alguma experiência ou como forma de realização. As contribuições podem ser de múltiplas espécies, mas como objetivo produzem resultados e obtêm, mesmo sem querer, recompensas.

Estas recompensas são a aceitação da contribuição e podem ser tanto de natureza material ou pelo reconhecimento e pelo agradecimento dos beneficiados.

Assim, chegamos aos poucos, a nos tornar executivos e contribuir para o sucesso de um empreendimento, ou nos tornamos professores e contribuímos para influir na formação de nossos alunos, podemos ser arquitetos e contribuir na decoração ou até na construção de uma casa ou ainda podemos prestar serviço voluntário na comunidade colaborando para inserir alunos em escolas, mesmo sem recursos.

Destas múltiplas formas estamos contribuindo ajudando a tornar melhor a vida das pessoas, ou podemos mesmo construir prédios e oferece moradia para muitos. Existem múltiplas formas de contribuir e entre elas também, oferecer segurança ou prestar serviços como médico em hospitais para atendimento de emergência.

Podemos também construir brinquedos educativos e contribuir para que crianças possam brincar sem se contaminar com produtos insalubres.

Podemos também contribuir para alegrar a vida de muitos importando instrumentos musicais que serão distribuídos e chegarão aos lares.

Nõ podemos deixar de mencionar o papel importante das mulheres, tanto as que trabalham fora, ou as que cuidam dos filhos. Possuem um papel importante contribuindo tanto na educação e formação dos filhos, como para criar condições propicias para seus companheiros ou maridos executarem as suas contribuições, cuidando do lar, da manutenção e da alimentação, muitas das vezes como complemento à já contribuição trabalhando fora ou como profissionais.

A fundação de um parque de diversões na cidade de São Paulo, que foi o Playcenter, veio contribuir para amenizar a vida da metrópole e divertir crianças e adultos e foi por isso um grande sucesso.

Isto lembra história da pessoa que passa por um prédio em construção e para e pergunta a um operário o que ele está fazendo e ele responde: estou levantando uma parede, mais adiante e não satisfeito para novamente e pergunta a outro operário o que está fazendo e ele orgulhoso responde: estou construindo uma catedral.

Todas as atividades vistas como contribuições estão colaborando para satisfazer necessidades e chegam de encontro com demandas existentes. A oferta de contribuições indesejadas conduz por sua vez ao fracasso.

A seguir uma singela homenagem à Dra  Gudrun que foi nossa médica durante muitos anos.

No dia 14-12-2029 nasceu a Dra Gudrum e veio a nos deixar no dia 28-09-2022 aos 92 anos de idade, na cidade de Florianópolis, onde residiu nos últimos anos, a parir dos 68 anos de idade.

No comunicado do centro antroposófico publicado na Instagram foi inserido pequeno verso que estou reproduzindo a seguir:

A morte chega cedo pois breve é toda vida

O instante é o arremedo

De uma coisa perdida

O amor foi começado

O ideal não acabou

E quem tinha alcançado

Não sabe o que alcançou

E a tudo isto a morte

Risca por não estar certo

No caderno da sorte

Que Deus deixou aberto

    –  Fernando Pessoa

Teve sem dúvida uma vida dedicada a contribuir, sem pensar em recompensa, pois ela, a vida, nos retribui de alguma forma, sem que esperemos.

Depois de formada como médica resolveu escolher especialização na medicina antroposófica que leva em conta a pessoa na sua totalidade usando medicação homeopática. Foi a primeira médica antroposófica do Brasil. Destaco que ela era vegetariana e nunca comeu o que ela chamava de “animais mortos” na sua vida longa.

 A causa da morte foi dada como sendo morte por velhice.

Com ajuda do primeiro marido, com quem teve quatro filhos, conseguiu construir a Clínica Tobias, onde eram tratados com internação doentes precisando de assistência durante 24 horas por dia. Mais tarde e sentindo a necessidade de medicamentos adequados ajudou a fundar o laboratório Weleda. Durante muitos anos foi médica do Kurt que era meu sócio e que nos encaminhou para ela, sendo que ainda hoje seus conselhos e recomendações são seguidos. Fundou mais tarde a Artemísia, em Parelheiros, onde ministrava cursos biográficos e de desintoxicação, que frequentei e onde contribuía para redirecionar a vida das pessoas, pensando no que cada um tinha para contribuir.

Quando Daniel, seu segundo marido, teve problemas com saúde, mudaram para Florianópolis pensando descansar, mais logo depois de dois anos sentiram necessidade também de contribuir e criar uma clínica antroposófica também no Sul do país, onde deram continuidade aos cursos biográficos. Foi assim o surgimento da Clínica Vialis.

A Gudrun escreveu grande quantidade de livros e destaco os livros sobre Alimentação saudável e orientados a cada necessidade e nos últimos tempos o livro sobre a vida após 80 anos, que é compilação de mais de 100 biografias resumidas, de pessoas longevas entre as quais estamos a Eva e eu e o sócio Kurt

Lendo sobre as ideias da logoterapia para o tratamento de problemas na busca do sentido, a resposta para tudo está na contribuição contínua de uma vida como a da Dra Gudrun. A vida fica sem sentido quando deixamos de contribuir de alguma forma, mesmo que seja escrevendo artigos e livros durante muitos anos. Grande número de pessoas compareceu ao lançamento de seus últimos livros atestando que ela teve grande influência na vida de muitas pessoas.

Olhando no retrospecto de minha vida e lembrando que sempre fiz o que gosto, vejo que foi de contribuições, na família, na sociedade, como consultor emitindo pareceres e aconselhamentos, como professor influenciando para o bem, como assessor de uma ONG que trata de crianças desnutridas, construindo um condomínio ecológico com toda parte de área verde preservada e maior do que a área reservada aos futuros habitantes.

A busca do sentido se encontra na expectativa de contribuir mesmo nas piores condições de vida relatadas por Viktor Frankl no seu livro “Em busca do Sentido” e quando ele se imagina num auditório em Viena palestrando para um público numeroso está evidente a sua contribuição buscando sentido para a existência e obtendo energias para continuar e sobreviver nas piores condições.

Kurt e eu ajudamos a formar um grupo de consultores com participação de membro do NPI Instituto Pedagógico Holandês, antroposófico, com a ideia de cada membro ter espaço para relatar no que estava trabalhando, quais eram as suas ideias, conceitos que estava implantando em seus trabalhos, e desta forma nos encontros que tivemos durante muitos anos ouvimos as contribuições dos outros e contribuímos para todos sair enriquecidos desses aportes.

Com amigos como Stefan Blass e Kurth Lenhard, e mais alguns membros, tínhamos também encontros periódicas onde eram vinculadas entre todos notícias da realidade do mundo, sendo que devo mencionar que Stefan era quem sempre contribuía mais trazendo revistas ou livros com assuntos interessantes que eram comentados por todos. Estas reuniões que eram feitas em rodízio na casa de cada um duraram enquanto a vida de seus membros permitiu e enriqueceram a nossa existência.

Cabe terminar este tema, depois de ter lido que a toda vida é curta lendo o poema de Fernando Pessoa, com uma fábula sobre o filósofo, pensador, professor e escritor Goethe e seu discípulo

Em certa ocasião foi abordado por um discípulo provavelmente desanimado que comentava: “professor, a vida tem um minuto para nascer, mais um minuto para crescer, logo formamos família, ficamos adultos, envelhecemos e logo depois sobrevêm a morte, ao que Goethe respondeu: 60 minutos tem a hora, o dia mais de um milhar, filho aprende sem demora, quanta coisa se pode criar” e acrescento quanta coisa se pode contribuir e dar sentido à vida. Cada ser humano é único e insubstituível; A Dra Gudrun, sem dúvida foi única; assim como também o Kurt e o Stefan. A eles a minha homenagem.                                                   

LUIS GAJ   

Contribuições recebidas sobre o Working Paper Nº 09​

Miriam Menossi:

A contribuição da Dra.  Gudrun para um mundo melhor foi, sem dúvida, de grande valia. Eu não tinha conhecimento do falecimento dela. Grande perda!

Contribuir foi mais um dos recados que a Pandemia nos deu: cuidar uns dos outros, pois em termos globais TODOS SOMOS UM. Acontecendo em todos os continentes fomos igualados: ricos e pobres, brancos, negros, amarelos e indígenas. E a solidariedade resplandeceu. A meu ver a nova geração compreendeu melhor o recado e continua a contribuir.

Gostei da classificação das fases da vida e lembrei que o Projeto Escolar que Kurt desenvolveu abrangia a contribuição desde a pré-escola até a fase adulta. Pelo projeto em cada fase uma forma de contribuir, de acordo com o crescimento intelectual das crianças e depois jovens.

Infelizmente esse sonho Kurt não realizou. Com o projeto em mãos ele procurou profissionais da Educação, políticos e até amigos pessoais de outras áreas. Sempre encontrou resistência.

O projeto está em meu poder aguardando a oportunidade de ser aproveitado.

Kurt era apaixonado pelos conceitos do NPI e o grupo de consultores que vocês criaram ainda sobrevive com Vitor, Eliana, Tatiana, Valter e agora incorporando membros mais jovens que possam dar continuidade.

A trajetória de vida sua e de Kurt são o melhor exemplo de como melhorar o mundo.

A minha, mais modesta, começou aos 15 anos, quando comecei a trabalhar e me incorporei a um grupo que ajudava um orfanato. A sensação que eu tinha era de uma paz interior, uma satisfação íntima muito agradável. E pela vida afora sempre contribuo de uma forma ou de outra.

Parabéns, Luis por ter resgatado esse tema para refletirmos nossas histórias de vida e pela bela homenagem aos nossos queridos que já se foram deixando um belo legado para que o Planeta Terra seja um mundo cada vez melhor.

J.F. Saporito:

Caro Luís,

Ao receber a sugestão de escrever sobre a palavra-chave contribuir, tive de imediato uma dúvida conceitual. Isso porque à primeira vista cheguei a elaborar em meus pensamentos, que contribuir e colaborar tivessem funções semelhantes.

Aos poucos mudei de opinião porque na verdade não é bem assim, pois são formas diferentes de uma pessoa estar conectado com o seu meio ambiente em ações que beneficiam a sociedade em geral, sem contundo terem a mesma raiz de princípios, motivos e resultados.

Enquanto a disposição de contribuir está restrito a um certo perfil de pessoas ou entidades, a iniciativa e vontade de colaborar está disponível genericamente a qualquer pessoa ou entidade

Pesquisando as duas palavras entendi que contribuir tem mais a ver com ações que são percebidas externamente, ou seja, tem a amplitude de favorecer terceiros com a transmissão de ideias produtivas e inovadoras, de transferir conhecimento e experiência, de fazer doações monetárias ou não, de criar uma instituição orientada para atendimento de pessoas carentes ou de alto potencial, e muitas outras atividades correlatas as mencionadas.

É bastante comum que atividades contributivas comecem a fazer parte do projeto de vida de um indivíduo ou de uma empresa, a partir de um certo nível de consciência e maturidade, não necessariamente envolvendo o uso de recursos financeiros, mas sim o credo de que é possível fazer algo diferente e deixar uma marca própria na sociedade.

É frequente as situações em que aquele que contribuiu em prol da sociedade por convicção de motivos e tenha alcançado os objetivos propostos, seja alvo de reconhecimento público em manifestações espontâneas, tanto por merecimento de quem contribuiu como para externar os agradecimentos dos beneficiados.

Isso é mais do que o suficiente para quem verdadeiramente está empenhado em contribuir e prefere não relacionar o seu nome em excesso com os benefícios recebidos pela comunidade. Nesses casos estamos falando do estilo low-profile. Faz, mas não gosta de publicidade.

Outras vezes, nos deparamos com pessoas sem convicção, que contribuem como o único objetivo ser reconhecido, ganhar notoriedade e com isso alavancar sua imagem de benemérito. Isso se dá especialmente quando se trata de relacionamentos de interesses econômicos com os diferentes

segmentos público e privado da sociedade. Nesse caso, contribuir pode ser parte de uma estratégia em benefício pessoal. Isso se chama ficar bem diante do público e dos meios de comunicação.

Apesar de algumas exceções, infelizmente no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, não existe uma cultura de empresas e famílias com grandes fortunas que compartilhem recursos de forma significativa com projetos que visem beneficiar ideias inovadoras e de longo alcance social.

É muito difícil que visionários que tenham em mãos um projeto de grande alcance para o país, tanto no campo educacional, como de pesquisa científica ou mesmo de desenvolvimento social nas comunidades carentes, conseguir sensibilizar os executivos de empresas e famílias milionárias a contribuírem com recursos que não representem possibilidade de retorno direto para os próprios investidores.

São poucos os nossos exemplos de envolvimento empresarial e de famílias milionárias que tenham interesse em contribuir, se considerarmos que estamos em um país que hoje é a décima terceira economia mundial, mas que até 2014 era a sétima.

Assim, ao analisarmos o sentido de contribuir, sempre nos deparamos que o reflexo da ação é externa por envolver específica e diretamente um certo núcleo de terceiros através de instituições ou pessoas. Trata-se de algo em que o beneficiado percebe claramente a ação e quem exatamente contribuiu. Em outras palavras, dá-se nome aos bois.

Diferentemente de contribuir a ação individual de colaborar é menos percebida do ponto de vista externo, pois milhares poderão estar fazendo a mesma ação em um determinado período. Trata-se de algo que tanto faz bem tanto para quem faz como para o resultado geral do tema em que se está colaborando. Nesse caso não existe reconhecimento dos participantes. Colaborar está disponível para qualquer pessoa, independente da sua condição social, econômica e cultural. Pode ser praticada de forma individual no dia a dia das nossas vidas. Na maioria das vezes não envolve recursos financeiros.

A colaboração coletiva tem o poder transformador da sociedade no sentido de que é responsabilidade de cada um fazer diariamente a sua parte para que o todo se beneficie.

Podemos citar a separação do lixo em cada uma das residências como sendo um exemplo ícone de como cada ser vivo pensante pode colaborar para a melhoria do planeta. A colaboração individual de cada pessoa não vai ser notada externamente pela comunidade, identificando os participantes, mas terá um peso inestimável na redução da poluição e no desperdício de muitos materiais que podem ser perfeitamente reciclados. Em nosso país, são centenas de milhares de pessoas que não colaboram na separação do lixo, inclusive nas classes A B C que em tese, tem todas as condições de fazer.

As regras de trânsito é um outro exemplo de caráter mundial. A colaboração de cada motorista em seguir de forma irrestrita todos os pré-requisitos de direção segura, evita a ocorrência de acidentes e muitas vezes de mortes. Qualquer cidadão que tenha uma carteira de motorista pode colaborar de maneira decisiva para com a segurança de outras pessoas. Somos o terceiro país com mais mortes no trânsito, atrás apenas da China e Índia.

Faz pelo menos 30 anos que convivemos com a realidade da Dengue e durante os mesmos 30 anos recebemos orientações na tv, na mídia e dos servidores sanitários que visitam as casas informando sobre prevenções e cuidados com água parada nas plantas, pneus, latas e outros objetos. É incrível que a falta de colaboração em atitudes tão simples impeça, se não a irradicação, pelo menos a redução drástica da doença que além de matar, impacta em alto volume de recursos destinado ao Ministério da Saúde.

O resultado seria outro se cada um em particular fizesse a sua parte, simplesmente colaborando com as orientações da autoridade sanitária.

Por falta de colaboração do paulistano, o que falar da poluição dos rios Tiete e Pinheiros que ao invés de serem locais de lazer e cartão de visita da cidade, se transformaram em verdadeiros depósitos de toda espécie de materiais, cujo resultado e criar condições favoráveis ao entupimento dos bueiros e consequente alagamento de inúmeros bairros. A consciência coletiva dos moradores de São Paulo em colaborar com a vida saudável dos rios está ao alcance de todos os que vivem nessa cidade.

Desnecessário citar outros inúmeros exemplos do nosso cotidiano. O importante é fixar a ideia de que colaborar pode ser praticado por todos; basta querer ser um protagonista anônimo de soluções transformadoras.

Contribuir, nem sempre está à disposição de qualquer um pois impõe condições na execução das ações que são restritas a poucas pessoas com características especiais.

Finalizo concluindo que contribuir e colaborar não são nem antagônicas nem tem a mesma função. Ambas são do bem, funcionam quando praticadas de forma individual ou coletiva. Se completam fazendo a diferença ao atingirem por caminhos diversos, o protagonismo de soluções benéficas a todos os seres vivos do planeta.

Abraços do amigo Saporito

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