EDUCAÇÃO

ENSAIO Nº 03

No ensaio No 2, que trata do tema da justiça, destacamos a importância de se elaborar um manual de ética e moral aplicável especialmente para as pessoas que desejam dedicar a sua vida, a sua profissão, para o serviço público. E especialmente a aqueles que tem potencial para ocupar cargos de liderança no governo. Este manual seria também aplicável a todos os cidadãos.

Educação possui um aspecto amplo que abrange a família, a escola, a comunidade. e também as experiencias, e se complementa com aprendizagem.

O meu sócio de 35 anos de trabalho juntos era um estudioso autodidata, uma pessoa de valores éticos e morais, foi fundador de um movimento que denominou “Fórum de Educação Infantil”. Era uma pessoa preocupada com as questões sociais, com a pobreza, com a marginalização, e desejou contribuir com ideias, que partindo da educação desde a infância, pudessem a médio e longo prazo mudar a atual situação do País na busca de índices de desenvolvimento humano melhorados.

Kurt Lenhard nos deixou faz aproximadamente faz quatro anos, aos 98 anos de idade deixando saudades em quem tivemos o privilégio de com ele conviver. Ele elaborou um trabalho tipo proposta que denominou “Educação para a Cidadania”, desde a primeira infância e abrange tanto a educação na escola como, no âmbito familiar e nas relações com terceiros.

Organizou sugestão dos temas que seriam importantes em cada idade, sem colocar na forma de programas de educação, mas que fossem temas a serem incluídos nos programas existentes de português, matemática, geografia e história em vigor. Começando aos quatro anos e estendendo os temas até os 20 anos, se bem que o processo da aprendizagem se estende durante a vida toda, Kurt focou no tópico da cidadania e na formação de pessoas responsáveis nas diversas idades. Estes temas são também dedicados para as famílias na formação de valores éticos e morais nas gerações em crescimento e no futuro do Brasil.

A seguir reproduzo as ideias do Kurt:

“A partir do 4 a 6 anos de idade

Enxergar e ouvir o outro. Procurar compreender o próximo.

Aceitar a si mesmo. Aceitar o outro. Reconhecer o direito a diferença. Identificar-se com o outro. Ter compaixão com o sofrimento do outro. Amor ao próximo.  Expressar solidariedade. Cortesia, decência. Agir com civilidade. Autocontrole, segurar erupções de raiva. Cultura de paz

A partir dos 7 anos de idade

Assumir responsabilidade pelo que fala, escreve e faz. Fazer as coisas com qualidade. Não se deixar atrapalhar pelo “não adianta”. Não se deixar manipular. Colaborar, agir em conjunto com outros, sem abdicar de suas convicções. Complementar, fazer a sua parte. Praticar solidariedade. Cumprir a sua palavra. Reconhecer o mérito dos outros. Integridade.

A partir dos 10 anos de idade.

Olhar crítico. Analisar qual a causa da causa.

A partir dos 13 anos de idade

As ações de hoje criam as condições para o amanhã. Pensar a longo prazo. Visão estratégica. Gostar de si memo. Autoconfiança. Dever perante si mesmo. Manter a saúde do corpo. Manter a mente aberta. Ser criativo. Procurar crescer no conhecimento e na compreensão. Competir dentro da ética. Cumprir o dever perante a família e os amigos. Escolher os amigos com cuidado. Exercer um papel positivo na família, com os amigos e no trabalho.

A partir dos 17 anos de idade

Cumprir o dever perante as comunidades. Assumir responsabilidade de tarefas para a comunidade. Trabalho voluntário. Cumprir o dever perante a nação. Tomar conhecimento da vida pública. Cumprir responsabilidade perante a nação, a comunidade e o planeta. Aprender técnicas de fazer reuniões que levam a conclusões e decisões

A partir dos 19 anos de idade

Procurar companheiros e aliados para suas ações em favor da sociedade.  Agir/trabalhar com outros a favor da sociedade.

Contribuir para a reciclagem e os cuidados com o lixo

ACREDITAMOS NA NOVA GERAÇAO E NO FUTURO DO BRASIL

Kurt Lenhard 2016”

Educação, no entanto, sofre pela falta do acesso igualitário, formação adequada de professores, falta de recursos e políticas públicas que priorizem o ensino nos diversos níveis.             

Devemos acrescentar que para uma boa aprendizagem é preciso a criança e o adolescente estar bem alimentado. Destacamos a necessidade de planejar merenda escolar com critério técnico e com participação de pessoas especializadas em alimentação saudável. Novamente as políticas públicas são fundamentais para escolha de uma alimentação adequada.

Destacamos a intenção do Kurt de promover o desenvolvimento da pessoa em todos os aspectos, complementando os ensinamentos muitas vezes frios de matérias, sem preocupação com valores éticos e morais. Pensou na criação de uma geração de jovens críticos e capazes de escolher adequadamente seus dirigentes.

Quando a educação ocorre na escola ela é formal e cabe ao professor promovê-la com propriedade. Para tanto o professor precisa estar capacitado e estar imbuído de preocupações que excedem o limite das disciplinas que ensina.

Também é muito importante, até diria principal, a educação transmitida no ambiente familiar e que está fundamentada no exemplo que os pais e familiares transmitem. Nos primeiros anos de vida e até idade escolar, a educação se processa no lar e torna-se muito importante para o futuro.

Foge ao controle familiar e aos ensinamentos nos vários níveis escolares, a aprendizagem adquirida na rua, no convívio com amigos e no trabalho nos diversos relacionamentos. Por isso a importância de escolher cuidadosamente as amizades e também aceitar trabalhos que não entrem em conflito com seus princípios.

Ao abordar o tema da Educação entendi que era um problema social mal equacionado e recentemente recebi um levantamento da FIA Business School, sobre os 12 principais problemas sociais do Brasil, que passo a mencionar.

Saúde, educação, moradia, desemprego, saneamento básico, desigualdade social, trabalho infantil, fome, desmatamento, desigualdade racial, drogas e violência.

Destes itens pretendo escolher os temas a desenvolver nos próximos ensaios. Todos são temas importantes sendo preciso muita vontade e determinação das autoridades para focando e resolvendo um por vez melhorar a vida dos cidadãos do Brasil. Fica aqui a minha homenagem póstuma ao Kurt pelo seu esforço e preocupação com o tema da Educação.

Complementando o dito, volto a me referir à escola Renovar que a Miriam menciona em sua contribuição como exemplo a ser seguido. Escola fundada por Eduardo Mofarrej tem como exigência para admissão que os candidatos possuam integridade, espírito público e democrático, Liderança, pensamento crítico e autoconhecimento. Dos 12 itens mencionados pela FIA, eles focam em quatro que são:

Saúde, educação. emprego e alimentação. Esperamos que tenham muito sucesso na formação de futuros dirigentes políticos e que o programa seja multiplicado para maior efetividade.

A seguir interessante notícia sobre o NOVO SISTEMA EDUCATIVO que será implantado no Japão. O sistema velho era muito bom, mas este novo é revolucionário e forma as crianças como Cidadãos do Mundo, não como japoneses. O sistema piloto em implantação é denominado “Mudança Arrojada” que consiste numa mudança conceitual voltada a entender e aceitar diferentes culturas com horizontes globais, não regionais. O programa é de 12 anos e está baseado em alguns conceitos como: nada de materiais superficiais, nada de tarefas e somente 5 matérias que são:

1 MATEMATICA DE NEGÓCIOS com as operações básicas e uso de calculadoras financeiras.

2 LEITURA começando lendo uma folha de livro escolhido pelo aluno e terminando lendo um livro por semana.

3 CIVISMO, compreendido como respeito total às leis, o valor civil da ética, o respeito às normas de convivência e à tolerância, o altruísmo e o respeito à ecologia e meio ambiente.

4 COMPUTAÇÃO com office, internet e negócios online.

5 IDIOMAS com 4 a 5 alfabetos, culturas, religiões entre a japonesa, latina, inglesa, alemã, chinesa, árabe, com visitas socializadoras de intercâmbio com famílias de cada país durante o verão.

O que se espera deste programa: jovens que com 18 anos falam 4 idiomas, conhecem 5 culturas, 4 alfabetos, são espertos em computação e celulares como ferramentas de trabalho, lerem 52 livros por ano, respeitam a ecologia a convivência e utilizam matemática com extrema habilidade.

(coloco a ressalva de que recebi esta informação de parente que mora em Israel, esperando não seja fake News, mas mesmo que seja é muito interessante a ideia)

Contra essa geração irão competir os nossos netos ou bisnetos e dá para perceber por este programa, a distância enorme de nossos sistemas educacionais, quanto ainda temos que lutar contra o analfabetismo crônico instalado no País. Fácil é perceber que as sugestões do Kurt e o novo modelo japonês têm muito em comum

Educação e fundamental para o desenvolvimento humano e para o progresso social. Comunidades e cidades do nordeste que possuem 85 per cento da população vivendo do bolsa família e satisfeitos em não fazer nada, e deste total, 50 per cento são analfabetos, apresentam um quadro terrível de não desenvolvimento humano, de falta de educação para todos e do atraso das comunidades por políticas públicas que mantêm a existência da população, sem contribuir com atividades produtivas, que estimulam a ociosidade e que mantêm as populações numa letargia sem futuro. Urgente a mudança do conceito de buscar votos dando dinheiro, para um conceito de promover um futuro desenvolvimentista por intermédio de usar a educação como forma de progresso social e pessoal e para formar cidadãos conscientes. As políticas públicas devem garantir educação para todos e de qualidade, valorizando o papel do professor e deve ser inclusiva e criar mecanismos de estímulo para que as populações analfabetas adiram aos programas a serem oferecidos.

A educação também sofre os efeitos das mudanças tecnológicas e da introdução de meios sofisticados para serem colocados ao alcance dos em processo de aprendizagem. Por isso também os métodos e programas devem ser constantemente atualizados.

Sendo as novas tecnologias muito importantes, também é preciso cautela na utilização do ChatGPT por alunos de escolas de melhor nível, que o utilizam para apresentar trabalhos solicitados, sendo necessário verificar se a aprendizagem não está sendo prejudicada pela utilização destas ferramentas.

Por fim, e mesmo que o desafio no Brasil para melhorar o IDH (índice de desenvolvimento humano) seja complexo e demandante, cabe às autoridades, às famílias e aos cidadãos se sentirem críticos e insatisfeitos, para exigir planos de erradicação do analfabetismo mediante programas de qualidade na educação.

Com este parágrafo tinha acabado de escrever sobre Educação, quando dois artigos chamaram a minha atenção. Um de Bolívar Lamounier,  que muitos anos atrás e quando ele não era tão conhecido fizemos um seminário para nossos clientes com a sua participação e agora escreve periodicamente no jornal Estado de São Paulo Recentemente escreveu sob o título “Onde Começa o Começo”, e outro artigo do diplomata Roberto Azevêdo sobre A Corrida Ambientalista e a Visão Reducionista, lembrando que o tema Sustentabilidade foi abordado no Working Paper número 7 de 2022.

No artigo de Bolívar Lamounier e tentando resumir começa relatando experiência realizada por professor da Universidade de Boston que dá aos alunos a tarefa de definir porquê da deflagração da Primeira Guerra Mundial, e estes deviam responder com um parágrafo somente. Lido a seguir o resultado foi que é muito difícil definir o porquê de um fato tão importante. Os alunos tinham respondido com múltiplas causas.

Aplicado a nosso momento no Brasil atual, e numa roda da CNN tinha surgido a questão “porque o Brasil não sai do lugar” e porque nosso sistema político está a décadas afundado nesta situação, incapaz de aprimorar a sua estrutura institucional e ainda menos capaz de levar a cabo os desejos de crescimento econômico e bem-estar social.

Uma das causas seria a fixação na ideia de governo forte, ou personalista e autoritário. Outro motivo seria a contra reforma, ou combate ao protestantismo deflagrado na Espanha por Ignacio de Loyola que dominou na Europa Mediterrânea, de países de origem latino, e que foi a herança que recebemos. A idolatria por governos fortes prevalece até hoje e também a contra reforma levando a obsessão populista. Lamounier menciona que sistema de governo presidencialista só funciona nos EUA. E que em toda América Latina degenerou para presidencialismo, ou numa forma de ditadura. Enquanto isso os países que adotaram o protestantismo tiveram progressos significativos na evolução cientifica e tecnológica, que o presidencialismo paralisou. A nossa herança da colonização portuguesa estivera baseada em três fatores: latifúndio, escravidão e monocultura. Estes três fatores ligados à contra reforma nos legaram um zero à esquerda em termos de tecnologia e ciência, segundo o artigo.

Também o atraso se deve a que como regimes presidencialistas colocam em cargos muito bem remunerados amigos, parentes e simpatizantes, assim como favorecem políticos que fornecem sustentação para aprovação de medidas.

A burocracia instalada, especialmente após a construção de Brasília e o excessivo tamanho da máquina pública, vieram em detrimento de investimentos necessários em infraestrutura, educação e saúde.

Inglaterra e os Estados Unidos lideraram o desenvolvimento investindo em ciência e tecnologia, o que foi fundamental para o progresso industrial, enquanto no Brasil ciência e tecnologia são temas relegados a segundo plano

Devemos concordar plenamente com esta visão, mas nesse Onde Começa o Começo e o “Porque o Brasil não sai do lugar”, acrescentamos a visão de que olhando para o futuro e se não podemos prescindir do presidencialismo, pelo menos podemos acreditar que a forma de desenvolver o País parte da Educação em todos os níveis e na erradicação do analfabetismo, sendo preciso escolher e priorizar por onde começar a sair da letargia da colonização. Existem mentes brilhantes como Lamounier e como Roberto Azevedo e a potencialidade para o Brasil decolar é imensa. Falta vontade e firmeza na decisão de investir prioritariamente na educação como forma capacitar a população para um futuro melhor e para o progresso social e melhora do nível de vida.

Com relação ao artigo publicado no Valor Econômico e que a Miriam Menossi gentilmente me encaminhou, estou enviando assim como recebi como complemento interessante sobre o tema da sustentabilidade abordado em 2922 visando acrescentar mais uma visão atualizada sobre o tema.

Luis Gaj

Contribuições recebidas sobre o Ensaio Nº03.
Educação

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