RESENHA DE LIVRO SIM, É POSSIVEL de William Ury

Ensaio no 21

WILLIAM URY é um conhecido especialista em negociações e intermediações de conflitos de suma importância para o mundo.

No seu livro, e como resultado de sua vasta experiência, ele elabora todo um roteiro, que ocupa boa parte do livro, intermediado do relato de suas experiências.

Por se tratar de um esquema técnico, e somente interessar a quem for se especializar, deixo de lado essa parte, e vou somente relatar alguns dos seus casos e conceitos.

Uma importante observação sobre o título aparentemente otimista, ele se manifesta dizendo: não sou otimista, nem pessimista, sou possibilista. Sim, é possível se refere a ter sucesso na intermediação de conflitos, onde as partes consideravam impossível o entendimento.

Para iniciar o relato dos casos onde teve intervenção, nos referimos ao conflito entre as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) com o governo Colombiano, onde o então presidente Juan Manoel Santos, ganhou em consequência o Prêmio Nobel da Paz, pelo acordo com a FARC, celebrado em 2016, e após a existência das  guerrilhas durante seis décadas, e ter custado mais de 450 mil mortos.

Em 12 de Março de 2025, artigo no jornal O Estado de São Paulo, dedica página inteira a um novo elemento que provavelmente irá demandar nova intervenção na Colômbia.

O governo dos Estados Unidos decidiu unilateralmente cancelar as atividades da USAID Agência para o Desenvolvimento Internacional, que teve papel importante na realocação de agricultores que tinham sido desalojados pelos conflitos, assim como na substituição de plantações de coca, por outros produtos. A suspensão da ajuda americana, pode colocar em risco a frágil paz na Colômbia. Atualmente o presidente da Colômbia, desde 2022 é Gustavo Petro, que tinha sido membro do extinto grupo guerrilheiro M 19.

Quando imaginamos uma negociação, se ela estaria sendo mal conduzida, ela estaria focada no que aconteceu no passado, e nas explicações do porque o entendimento seria impossível, no entanto, se a negociação estivesse indo bem, ela estaria focada no presente e no futuro, e no que seria possível fazer na busca do entendimento.

Como antropólogo e negociador, o autor esteve desde muito jovem envolvido em casos de conflitos, de suma importância, como era o do Oriente Médio, e o risco de uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a Rússia.

Em outro caso em que participou Kim Jun-un de 33 anos, da Coreia do Norte, e o primeiro governo de Donald Trump, e o caso dos mísseis balísticos da Correia do Norte, com capacidade de transportar ogivas nucleares, e o propósito do presidente americano de impedir. Uma estratégia ardilosa permitiu descobrir que o jovem ditador coreano gostava do futebol americano e era admirador de um jogador em particular. Ury contatou este jogador, e ficou conhecendo características particulares que lhe permitiram intervir, e colaborar na solução do conflito.

Muito pitoresco o caso de um conflito em família por causa de uma herança no antigo Oriente Médio. Ao morrer, uma pessoa deixa para seus filhos uma herança para dividir: a metade para o mais velho, um terço para o filho do meio e um nono pra o filho menor. O problema é que a herança era de 17 camelos, número que não é divisível dessa forma. Os três irmãos achavam que tinham direito a parte melhor, e isto provocou um acalorado conflito, envolvendo a família. Sem conseguir chegar a um entendimento, resolvem consultar uma sábia anciã, para a qual solicitam a sua intervenção. Ela solicita um dia para pensar no problema, e no dia seguinte vem ao encontro com mais um camelo que ela elogia, por seu passado, e oferece como presente.

Os 3 filhos ficam surpresos e agradecem a gentileza da sábia anciã. Agora com mais este camelo são 18 e assim e possível dividir 9 para o mais velho, 6 para o do meio e 2 para o mais jovem, somando 17 e sobrando um camelo que devolvem para a anciã. Todos saem satisfeitos e inclusive a anciã.

O autor aprofunda este caso, para explicar as atitudes preparatórias da anciã, se afastando para raciocinar, ouvindo atentamente, e propondo uma solução possível.

Podemos acrescentar em toda intervenção, a terceira parte destinada ajudar na solução de conflitos latentes, precisa não estar comprometida, ou ser favorável a uma das partes, para ter sucesso. Existe semelhança entre conflitos entre nações ou dentro de uma família, e nos negócios, e o importante e termos uma atitude de audácia humilde para lidar com eles.

O livro relata muitos casos de sucesso nas negociações, e um se refere ao risco que havia de uma guerra nuclear entre Estados Unidos e Rússia, quando os russos, silenciosamente estavam instalando misseis com ogivas nucleares direcionados aos Estados Unidos na ilha de Cuba. Os americanos estavam dispostos a invadir Cuba para desmontar as instalações, quando após enorme tensão, foi conseguido acordo dos russos retirarem os mísseis, e os americanos por sua vez, desmontassem as instalações de mísseis na Turquia.

Outro caso foi o do apartheid na África do Sul, onde as previsões eram de massacre e até guerra civil, quando foi conseguido entendimento entre a comunidade branca e Nelson Mandela, que após todos seus anos prisioneiro, se tornou presidente, e a paz foi alcançada

Fica impossível resumir as inúmeras citações, e a riqueza dos relatos do autor em poucas páginas, e pôr isso desejo recomendar a sua leitura, e absorver a profundidade das intervenções que se fizeram necessárias, para evitar os inúmeros conflitos do século. Acredito que nunca deixaremos de viver com conflitos, mas podemos evitar que eles se transformem em guerras, numa época em que isso pode significar a destruição do planeta.

A ideia de fazer a sinopse, era uma introdução para permitir extrapolar o princípio possibilista, que eu tinha denominado sempre como realista, para falar da necessidade de uma atitude realista em todas as circunstâncias possíveis. Isso pode ser aplicado aos negócios, à vida em família, ao caminho para realizações, e assim agir dentro do que é possível, mas transformando o que parecia impossível em possível, desde que tomadas atitudes positivas no interim.

Também gostaria estender o conceito possibilista, para a superação de situações difíceis, que normalmente todos os seres humanos enfrentam nas suas vidas, e destacar a forma de fazer acontecer o que é permitido, e possível de realizar.

Mas como adendo a estes conceitos e para ser possível fazer acontecer, superar e realizar, e muito importante investir em si mesmo, considerando que o tempo a nosso dispor, pode ser utilizado para crescer, ou simplesmente para vivenciar passivamente.

Existe uma expressão do povo Kasai da Malásia que diz>

Tempestades, tufões, terremotos e tsunamis são forças da natureza que estão fora de nosso controle, mas a guerra é feita por nós, portanto pode ser impedida por nós.

Uma das atitudes mais importantes no trato de situações difíceis, é a de permitir que as partes que se sentem injustiçadas, tenham a oportunidade de expor as causas de seus sofrimentos, e sentimentos, e de que sejam ouvidas atentamente. Esta forma de proceder, permite entender, e se identificar, e analisar com criatividade, e encontrar formas de solucionar, permitindo que ambas as partes se sintam compreendidas, reconhecidos seus problemas, e encontradas soluções que as atendam.

Em muitos casos. será necessário que ambas as partes cedam parte de suas exigências, para encontrar formas de entendimento.

Assim Ucranianos e Russos deveriam poder cada um, em vários níveis da população expor as suas situações, e partir para soluções ganha-ganha.

Da mesma forma, palestinos e israelenses deviam poder abrir amplo diálogo, expondo as reinvindicações de ambas as partes, e partir pacientemente na busca de soluções que atendam, e que promovam a paz duradoura, sem extremismos.

Testemunhar a dor do outro, com empatia e compaixão, será capaz de abrir as portas para negociações positivas.

Acolher, é o primeiro passo que cada um de nós pode dar. É prestar atenção as partes e a situação, alargando o circulo de preocupações. Isso significa deixar de lado: isso não é de minha conta, para uma atitude de participação e envolvimento, como comunidade da qual todos pertencem.

O mundo precisa de possibilistas, para lidar com os inúmeros conflitos da atualidade, pessoais, profissionais ou políticos. A engenharia genética e a inteligência artificial, estão provocando transformações profundas em nossas vidas, e naturalmente mais mudança significa mais conflitos. A polarização política vem aumentando em todo o mundo, e aqui também é preciso da atitude possibilista para buscar soluções menos radicais. Enquanto reduzir tudo a dois extremos é nos colocar numa camisa de força, e preciso buscar alternativas, e a alternativa está entre queimar ou construir pontes, para melhorar o nosso mundo.

Vivemos num nível de desigualdades, pobreza, e guerras que é inaceitável, mas de outra lado, as possibilidades que as novas tecnologias oferecem são imensas, e podemos eliminar a fome, reduzir a pobreza e até acabar com as guerras.

Não existe nenhum problema que não possamos resolver, desde que adotemos uma atitude possibilista ou realista. Felizmente o que é criado por nós, pode ser mudado por nós. A escolha é nossa.

O caminho para o possível parece simples, mas está longe de ser fácil, ele consiste numa mentalidade, uma forma de viver em nosso tempo.

Luis Gaj Junho de 2025

– Rafael Smaletz.

Oi Vovô,

Acabei de ler o livro “Sim, é possível” de William Ury, e foi uma excelente leitura, obrigado por ter me recomendado e emprestado. Sem dúvidas, as experiências do autor e relevância internacional mostram que suas ideias foram úteis e ajudaram a evitar grandes conflitos mundiais e a estabelecer a paz em um ambiente improvável. Seguem algumas das minhas considerações:

1. Sua abordagem possibilista abre portas para os cenários mais difíceis, e o anseio por grandes desafios é inspirador. Tenho a sensação que quanto maior a dificuldade de resolver os problemas, mais recompensador ela é. Por mais que tenham circunstâncias onde erraremos, sua jornada mostra que quanto mais jovens e mais analisamos nossos erros, mais aprendemos sobre o mundo e sobre nós mesmos, como indivíduos, cidadãos e profissionais.

2. O conceito de livre arbítrio é muito bem explorado: um possibilista consegue enxergar muito além dos pontos materiais e precisamos sempre estar abertos a sairmos da caixinha para entender o que realmente importa. Por mais que seja temporariamente satisfatório tocar na ferida do inimigo em uma discussão, as vezes pensar por 5 segundos e voltar com uma resposta que direciona para uma solução pode ter um impacto maior no longo prazo. O livre arbítrio serve para mostrar que existem muitas alternativas, basta nós analisarmos, e se necessário, tirar um tempo a mais para “entrar no camarote”.

3. Ury ressalta em diversas vezes o poder de estar perto da natureza para refletir sobre os problemas cotidianos e acharmos um outro ponto de vista, e acho esse conceito incrível. Nao apenas para isso, mas também ressaltando a necessidade de estar conectado ao meio ambiente e à nossa essência. Lembro-me muito das colinas de Campos do Jordão para relembrar do que realmente importa: tempo de qualidade com aqueles que eu amo. E no dia a dia, as colinas da Avenida Paulista me fazem esquecer do que realmente importa. Por isso, o equilíbrio é fundamental e o contato com natureza nos coloca sob perspectiva. Após a leitura, ja marquei uma viagem para a praia para refletir sobre meu momento de vida e o futuro, certamente irá ajudar.

4. As motivações movem montanhas e pessoas. Ainda fico refletindo sobre os diversos casos quando o autor ressalta o lado humano, e como isso fez a diferença. Entender o próximo (como quando o autor cita as negociações entre curdos e turcos, colombianos ou tailandeses) pode tirar barreiras do caminho e mostrar o horizonte para as partes, e o caminho para uma solução pacifica de win-win. Por mais que os meios podem divergir, os ideais aproximam pessoas na esperança de uma melhoria de vida.

5. A escuta ativa se mostra ser um recurso essencial para todas as partes do conflito, a todo momento.

6. Fico imaginando em quais dimensões a mediação e busca pelo sim podem ser aplicadas, e dificilmente acho algum conflito em que não se encaixa. Desde disputas familiares até política global, temos muito a aprender.

7. Rapidamente sobre política, no contexto do governo brasileiro, o papel do terceiro me faz refletir sobre como as mudanças podem ser feitas na forma bottom-up, ou seja, como a sociedade civil pode ajudar na manutenção das instituições e cumprimento da lei. Infelizmente a sociedade brasileira ainda possui a mentalidade de curto prazo e pouco senso de comunidade, onde ser o esperto é mais valorizado do que ser o inteligente. Por isso, não possuímos força suficiente como sociedade para fiscalizar e atrair os políticos em direção à soluções. Se cada um de nós propuséssemos a corrigir nossos conflitos e sermos exemplos para as futuras gerações, mais possibilistas seremos. Como Ury relata em seu livro “Precisa-se uma aldeia inteira para educar uma criança” e “quando as teias de aranha se unem, podem deter até um leão’

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