HONESTIDADE

Working Paper Nº 02

Antes de falar do tema de hoje uma observação importante: meu sócio de 35 anos, Kurt Lenhard que aproveito para homenagear dizia que e preciso desconfiar de quem fala muito em honestidade, por isso começo explicando que não me considero nenhum santo e que devo ter cometido meus deslizes durante a vida. Dos que recordo posso ter me arrependido, mas dos que não recordo talvez deva pedir desculpas.

Na religião judaica existe o dia do perdão, nesse dia se jejua, se reza na sinagoga e se perdoa e se solicita perdão pelos pecados cometidos durante o ano. Porém como sou do povo judeu, mantendo as tradições, mas não sou da religião, não tenho o consolo do perdão recebido e provavelmente não tenho sido ou não possa dizer que sou ou tenha sido honesto sempre e justifico a escolha do tema pela ética e moral reinante no mundo e na nossa sociedade.

A origem da palavra honestidade deriva do latim Honos, que significa honor e dignidade

Todos os dias assistimos a fatos noticiados a lamentar no comportamento de homens públicos e isto nos leva a pensar nas origens e nas causas desses comportamentos. Também são muito frequentes os casos de roubos e não faltam notícias de desfalques.

Podemos mencionar atos de corrupção generalizada, porém com exceções, na gestão do dinheiro público, colocação do interesse individual ou corporativo acima do interesse coletivo, a tal da “rachadinha”, apenas como exemplo, legislar em benefício próprio, ganhar “comissões” nas compras até de medicamentos para o público e para a saúde e muitas outras manifestações desonestas praticadas na gestão do dinheiro público.

Se, porventura, alguém recentemente concursado tiver a intenção de modificar a situação de um grupo desonesto, este fara uma imensa pressão para que o novo membro se adapte. O Nelson (nome fictício) era meu vizinho e tinha sido nomeado fiscal numa autarquia onde atuava um grupo de corruptos. Ao tentar adotar atitude correta foi ameaçado com ser encaminhado a uma repartição em um lugar muito distante. Como não podia porque a esposa era professora e os filhos estudavam aqui, teve se se “adaptar” ao esquema do grupo para sobreviver, ou então renunciar. Optou pela adaptação. Existem poucos corajosos que conseguem enfrentar uma situação como a mencionada e conseguem se manter honestos.

Em outro caso muito sutil que constatei em Brasília, em uma importante entidade, os funcionários pleitearam um clube de funcionários e por motivos políticos e de recursos a demanda foi negada. Algum tempo depois foi criado no mesmo local um centro de treinamento, o que foi aprovado. Aos poucos o centro de treinamento incorporou uma área de lazer com piscinas e todo tipo de recreação, onde os funcionários e familiares se divertiam como num clube.

Escrevi num dos meus livros que a criação de Brasília foi um grande erro estratégico e se tivesse sido efetuado “benchmaking” poderia ter sido detectado que para interiorizar o desenvolvimento não era necessário criar uma cidade e sim construir ferrovias, rodovias, escola e implantado indústrias com melhor resultado e sem ter acomodado uma burocracia corporativista emaranhada nas suas entranhas.

Conversando com amigos em estes dias e mencionando que pretendia escrever sobre honestidade um me diz “honestidade, nasce-se com ela” Será que a família e o exemplo não têm influência na formação do caráter e comportamento honesto, será que a escola e a convivência com colegas e professores, não ajuda também, a formar uma atuação honesta.

Devo discordar do meu amigo se bem que concordo com que a pessoa nasce já com certos traços de caráter e personalidade. A família e o exemplo dos pais e muito importante para formação da atitude que será adotada quando adultos. Na escola, a permissividade com um aluno colando do outro num ensino que valorizava a decoração dos textos para receber notas de aprovação, em lugar de ensinar a entender os temas a serem aprendidos e outra importante influencia na formação. Quando já nos níveis superiores e nas universidades, um aluno assina pelo outro para evitar acúmulo de faltas, está sendo desonesto com a escola, com o professor e aprendendo a ser desonesto no futuro.

Por isso e para se atingir um nível de educação que prestigia um futuro melhor é preciso que futuros administradores, futuros políticos, futuros homens de negócios, aprendam a distinguir atitudes permissivas, aparentemente inocentes, mas que moldam a personalidade e terminam formando pessoas familiarizadas com a desonestidade e convivendo naturalmente com ela.

Cabe aos educadores o papel de corrigir distorções como essas sendo intolerantes com aquilo que irá prejudicar uma formação adequada de futuras gerações.

A reação ao tomar conhecimentos destes fatos é de revolta e insatisfação. 

Por isso pensamos como educadores, o que fazer para mudar este estado de coisas.

Até bem-intencionados e corretos, recém-eleitos, estão calados, porque será.

Conte recentemente e caso de um funcionário público numa cidade pequena, cuja esposa era professora, que jogava o lixo no córrego que alimentava o rio da cidade porque achava que ficava feio deixar o lixo na frente da casa até a chegada do caminhão que o recolhe. Se essa professora não conseguia manter uma atitude honesta na sua casa, como teria condições de ensinar honestidade a seus alunos.

Por isso acredito que professores precisam também de reciclagem abordando temas importantes para a formação dos seus alunos, e não somente para ensinar a matéria determinada nos currículos escolares.

Talvez devêssemos buscar exemplos de atitudes honestas para nos inspirar a seguir eles. Uma pessoa que criou imagem de corretíssima foi a da chanceler da Alemanha Angela Merkel. Quando eleita ela manteve a sua moradia anterior sem utilizar mordomias no governo, nunca foi incriminada em nenhum caso de corrupção e teve uma vida durante todo o tempo como líder de nunca se beneficiar do cargo e atuar como prestadora de serviços para o seu país. Líder do partido CDU União Democrata Cristã durante 18 anos e foi considerada líder europeia e líder do mundo livre.

Alguns países nórdicos possuem no metrô catraca livre para quem não puder pagar o custo da viagem. Perguntado a um cidadão se as pessoas não se aproveitam dessa vantagem a resposta foi: se a pessoa pode pagar porque irá se aproveitar. Indicando que todos respeitam e ninguém se aproveita porque foram educados a serem honestos.

Num outro caso, funcionários de uma indústria, quando chegam cedo deixam seus carros distantes da entrada, para permitir que eventuais retardatários estacionem mais perto e cheguem rápido na empresa. A preocupação com s outros como forma de consideração, correção e honestidade.

Estes exemplos mostram que pode ser criada uma mentalidade modificada e que sem dúvida o papel da família e da escola e fundamental.

Poderíamos tentar uma classificação da honestidade, distinguindo honestidade na família, no trabalho, na escola, no serviço público com amigos, etc… deixo isto para um eventual aprofundamento com contribuições de leitores.

Agradeço as contribuições recebidas nos working paper anteriores, que vieram enriquecer e aprofundar os temas apresentados. 

Para terminar este breve ensaio podemos definir o que é ser honesto como digno de confiança e sincero. No mundo atual podemos distinguir os que se consideram espertos e os que se prezam por serem honestos.

Tarefa árdua de moldar os caracteres para tornar o mundo melhor, mais participativo, mais tolerante, mais compreensivo e mais identificado com o próximo e com as suas necessidades.

Num país como o nosso, com mitos sofrendo privações a falta de honestidade fica agravada porque enriquecimentos ilícitos significam aproveitamento dos menos afortunados e devia se considerado crime sujeito a severas penalidades.

Os deslizes de corrupção, a mentira e outras formas desonestas dificultam o caminho da prosperidade de todos e até são fonte de miséria e insegurança.

Nos falta solidariedade.   Nos sobra indignação por viver em tempos tão corruptos.                    

Como no working paper anterior, contribuições adicionais serão bem recebidas, assim como comentários a respeito do tema.

Contribuições recebidas sobre o Working Paper Nº 02​

Economista – Saporito

Honestidade é a prática de ações conscientes envolvendo caráter, ética, moral, dignidade, respeito ao próximo, a sociedade representada pelo Estado e a si mesmo.

Não há como escrever sobre honestidade sem abordar o contrário.

Ser desonesto também é uma prática de ações conscientes, sempre acompanhada por total desprezo dos efeitos e prejuízos que irão causar a terceiros.

Ninguém nasce honesto ou desonesto. A família, o local de vivência desde a mais tenra idade até a fase adulta, os colegas do bairro, o ambiente do local de trabalho, os traços da personalidade, as informações da mídia sobre as ocorrências do dia a dia, os usos e costumes da cultura do país, as leis que não punem adequadamente, e as religiões que inibem os maus feitos e o que acabam na verdade moldando a forma de ser de uma pessoa na sua relação com a sociedade quando se trata de praticar atos honestos ou desonestos.

É muito frequente que a palavra honestidade seja relacionada como predicado de pessoas idôneas que não roubam ou não participam de forma ativa ou passiva em ações que tragam prejuízos monetários ao Estado e a terceiros que façam parte do seu relacionamento profissional e pessoal.

Esse tipo de pessoa passa a ser reconhecido como honesto.

Penso que o conceito de ser honesto é muito amplo e não deveria ficar restrito as ações de não roubar, não praticar atos de corrupção e não coagir.

Podemos ampliar a discussão em outra direção. Para isso, vamos focar a narrativa de como o uso da palavra falada, escrita e publicada na comunicação entre as pessoas e instituições, pode ser fator determinante em definir se alguém está sendo honesto e sincero, ou desonesto com o seu interlocutor. 

Não mentir, não enganar, não dissimular, não omitir, não prevaricar, não chantagear, não aproveitar as brechas da lei para tirar vantagem, não transferir de forma não idônea responsabilidades pessoais a terceiros e sempre falar a verdade entre outros, são fatores importantes de análise e reflexão sobre o comportamento de honestidade de um indivíduo e/ou empresas públicas e privadas em relação aos seus semelhantes, clientes, fornecedores e prestadores de serviços.

As boas práticas da verdade e da responsabilidade social, podem ser características de pessoas físicas ou de instituições públicas e privadas, que passariam a ser vistas como confiáveis e honestas, desde que fizessem uso constante desses atributos.

Entendo que a honestidade está contida na dignidade do indivíduo que fala a verdade mesmo que em certas circunstâncias ela possa ser mal interpretada, incomodar, chocar e aborrecer terceiros envolvidos na questão em discussão. Falar o que o outro quer ouvir e não o que ele deveria ouvir é seguramente um ato desonesto.

Em nossa sociedade, o peso e valor da palavra perdeu no decorrer dos últimos tempos todo o seu crédito, em decorrência da falta de credibilidade nas pessoas.

A antiga expressão “no fio do bigode” não existe mais.

Qualquer documento que origine negócios ou emissão de documentos, tanto de ordem privada como pública exigem que as assinaturas das partes sejam confirmadas por um cartório. Trata-se de uma demonstração inequívoca de desconfiança na honestidade dos envolvidos. O sistema entende que pode haver falsificação de assinaturas entre as partes. Esse sentimento generalizado que pode estar sendo praticado um ato desonesto já está integrado no dia a dia do país.

Até mesmo em certidão de nascimento faz se necessário reconhecer firma para dar entrada em certos processos. As autoridades acreditam que uma certidão de nascimento possa estar sendo usada para identificar uma pessoa de forma desonesta.

O embasamento jurídico de certas nações baseados na filosofia anglo-saxão entende que o valor da palavra do indivíduo é fundamental na credibilidade e honestidade de quem afirma ou assina compromissos concordando com o texto. Se mentir, está assumindo as responsabilidades e responde nos rigores da lei pelas consequências.

Trazendo o tema do uso da palavra honesta para o ambiente da família, constamos as dificuldades que pais, filhos e parentes em geral encontram para abordar com honestidade e clareza o que pensam sobre determinado problema ou situação preocupante. As meias palavras, destituídas da verdade real do pensamento, pode trazer prejuízos futuro na relação entre os participantes e colocar em check a honestidade de quem omitiu ou não falou a verdade completamente.

No ambiente de trabalho, uma chefia que não é honesto o suficiente para abordar com o seu funcionário os pontos fracos que ele precisa focar e com isso evoluir na sua carreira, pode estar prejudicando o futuro dessa pessoa. Apenas elogiar os pontos fortes é fácil, mas não é honesto. A ausência da verdade apenas está antecipando uma futura dispensa, frustrando o funcionário que achava que estava tudo bem. Dizer a verdade no momento certo teria sido positivo. Omitir foi negativo e desonesto.

Entre as instituições são incontáveis os exemplos em que as áreas de marketing e publicidade deliberadamente não agem com honestidade, levando milhares de pessoas a comprarem produtos que não entregam o que estava prometido. O mais recente caso é o da chamada Black Friday. O sistema americano foi copiado, mas a responsabilidade sobre a verdade dos anúncios e preços ficou por lá. A cada ano aumentam as denúncias no Procon de consumidores lesados. Isso é altamente desonesto pois as empresas estão mentindo e enganando, sob o disfarce de promoções.

Os bancos não ficam atrás. O exemplo clássico é do aposentado, pessoa simples de baixa formação escolar, com um ou dois salários-mínimos que ao se dirigir a agência para o início do recebimento do benefício pelo INSS, é induzido pelo gerente a abrir uma conta corrente que o aposentado não precisa, resultando na cobrança de uma taxa mensal de manutenção da conta corrente. O banco empurra um serviço e cobra uma taxa. Isso não é honesto.

Assim, concluo que a questão da honestidade está vinculado não apenas em questões que envolvem roubo e corrupção, ativa e passiva nas empresas públicas e privadas, mas também de forma disseminada em todos os setores da sociedade emquestões de falta de moralidade e mal uso da verdade nas relações pessoais.

J.F.SAPORITO

14/01/2022

Dr. Marcelo Loebman:

Nenhum governo quer priorizar a educação. Se não teremos pessoas que vão eleger melhor seus representantes e cobrar efetivo trabalho dos eleitos. Isto creio, jamais acontecerá neste modelo educacional

Professora Miriam Menossi:

Bom dia Luis e Eva e ótimo domingo!

Refletindo sobre Honestidade conclui que é a conjunção dos 3 fatores: faz parte do caráter da pessoa; é produto da educação e exemplo familiar; e mais tarde da formação escolar. Bons professores adotam o sistema de Assembleia. Quando um aluno sente falta de algo em seu material, o professor interrompe a aula, todos se sentam em roda no chão e o professor administra uma conversa enfatizando a questão da Honestidade. Normalmente o objeto aparece. Essa prática é utilizada em bulling, em brigas, etc.

Agradeço a oportunidade de estar aqui com vocês. Abraços!!!

Irene Nani:

Olá, caro Luiz, achei muito interessante a sua abordagem sobre o tema “honestidade”!

Na verdade, pouco tenho a acrescentar, já que os diversos pontos foram bastante esmiuçados em sua descrição!

Acredito que o exemplo é importantíssimo! Meus pais sempre tiveram uma atitude extremamente severa quanto a isso! Daí que meus irmãos e eu consideramos a honestidade como um ponto indiscutível!

O Helio, da mesma forma era absolutamente rígido nessa questão! Eu até brincava com ele dizendo que eu queria me casar com um homem honesto, mas ele não precisava exagerar!!! Assim meus filhos continuaram com a mesma tradição! 

Quanto à política, entra um fator de extrema importância que é o “poder”! Por ele, infelizmente, as pessoas tendem a esquecer os princípios básicos com que foram educados! Soma-se a isso o fator dinheiro, que com um desvio de comportamento, consegue-se com muita facilidade! Nesse caso, apoiando-se no exemplo dos companheiros, muitos não conseguem resistir! 

Vemos diariamente exemplos tristes nos jornais!​

Por outro lado, a iniciativa de ajuda aos mais necessitados tem crescido consideravelmente, havendo hoje em dia campanhas honestas nas quais podemos confiar!

Enfim, acho que de um modo geral é o que penso! Um abração!!!

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